quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Fuga do Vale 2013 - À conquista das Aldeias de Xisto

(relato)

Dia 2 (20-08-2013)
Ir ao centro de Portugal, a banhos de água.....e de suor


Sardoal-Sertã 62,5 km 2087m D+



Na esplanada da residencial Gil Vicente, Sardoal, a preparar a jornada.

Depois de uma noite bem dormida e do pequeno-almoço tomado despedimo-nos da vila do Sardoal por volta da 8h30. Iríamos fazer cerca de 12 quilómetros por alcatrão para ir de encontro aos trilhos que fazem parte da recente Grande Rota do Zêzere (GRZ) que irá ser apresentada ao público durante o ano de 2013. Começamos a pedalar subindo na direção norte pela via central da vila, em direção a Andreus.


A sair do Sardoal. Passagem pelo Convento de Nossa Senhora da Caridade.

Seguiram-se os cerca de 6% de inclinação que antecedem o acesso à aldeia de São Domingo e depois a descida para Brescovo onde viramos para oeste na direção da Matagosa para ir até ao miradouro com o mesmo nome que é simultaneamente o Centro de Portugal (o geográfico, não o geodésico, que esse é em Melriça).


Adeus Sardoal. Olá Andreus.


O Rui, em Brescovo, a olhar para o próximo objetivo: o Centro de Portugal.


Situado no ponto dominante da paisagem lá subimos ao Centro de Portugal que é uma magnífico miradouro de onde se pode observar o esplendor da paisagem do Vale do Codes preenchido desde 1951 pela águas da albufeira de Castelo do Bode.


Vale do Codes visto do miradouro da Matagosa, Centro de Portugal.


Neste local existe um inóspito monumento, erigido em 1974 (não sabemos por quem), denominado o Cristo Rei da Matagosa. 


Monumento do Cristo-Rei no miradouro da Matagosa, Centro de Portugal.


Este monumento apresenta-se como uma trilogia que pretende homenagear os Marinheiros, os Aviadores e a Mulher Portuguesa. Existe também uma evocação, à posteriori, celebrando os 500 anos dos Descobrimentos Portugueses.



O Cristo Rei da Matagosa.


Aos Navegadores e aos Aviadores.


Peculiar homenagem à Mulher Portuguesa.


A primeira vista este monumento pareceu-nos uma obra do Estado Novo pela trilogia presente na homenagem, mas a data de construção deixou-nos baralhados. Uns assunto para investigar. Adiante!


Os MTB's no Centro de Portugal.


A paisagem esmagadora que observávamos do miradouro da Matagosa indiciava também uma jornada dura com terrenos agressivos e inclinações elevadas para vencer. Depois da breve paragem continuamos o caminho indo apanhar a GRZ uns metros mais abaixo, que nos levou numa descida em primeiro por estradão e depois em singletrack até Ponte de Codes.



Marco indicador da GRZ.


A descer do Cristo Rei da Matagosa para Ponte de Codes.


Ponte da ribeira do Codes a qual delimita os concelhos e Abrantes e Vila de Rei.


Daqui, seguindo a RCZ, fomos em direção a Penedo Furado um local paradisíaco encaixado na paisagem vigorosa. Esta beleza natural é constituída por uma sucessão de cascatas e pequenas lagoas encaixadas em cristas quartzíticas, numa região denominada Bufareiras, que culminam na aprazível praia fluvial do Penedo Furado antes da ribeira do Codes tocar o rio Zêzere.





Entrada no Penedo Furado.

Praia fluvial do Penedo Furado que foi uma das candidatas às 7 maravilhas de Portugal.

Para nós esta foi uma autêntica aventura, nunca imaginamos o que nos esperava. Depois de passarmos a praia fluvial entramos nos sinuoso emaranhado de trilhos do Penedo Furado que conduzem à diferentes cascatas, cada uma mais apetecível que a outra.





A caminho das Bufareiras, ainda montados nas bicicletas, sem saber o que iriamos encontrar.


A partir deste ponto muito do caminho (quase todo a bem dizer) foi feito com as bicicletas à mão perante um misto de observação e admiração (loucura!) dos veraneantes que por lá prazenteiramente se banhavam ou simplesmente passeavam.





Parece que dá para ir montado, mas, o piso não ajudava.

Aqui já o terreno não permitia pedalar.

À medida que íamos progredindo as cascatas começaram então a surgir. Cada uma mais bonita e mais apetecível que a outra.



Cascatas e mais cascatas.

O mulher, despacha-te, sai daí, que o senhor quer passar!

Subindo entre cascatas.















Andamos a certa altura "às aranhas", subindo (muito) e descendo (pouco), por trilhos íngremes com as bicicletas às costas (ou como dava mais jeito!), à procura do trilho certo para sair dali. Não era tarefa fácil devido à inclinação do terreno, o GPS não tinha precisão para tal e não havia marcações.
O Paulo Magalhães a mostrar as fotos da aventura aos veraneantes.


É por aqui Janinha!

Depois de andar de um lado para o outro, descemos por uma rampa inclinada certos que era por ali que seguia o trilho. Mas não! Fomos dar a um beco sem saída.....e ainda bem!


Na busca da saída perdida....encontramos o paraíso!



Este beco era somente uma cascata e uma lagoa escondidas sob a vegetação frondosa. Este era um sinal! Depois de andarmos para cima e para baixo sob um sol escaldante  este era o lugar ideal para parar e desfrutar do momento.


A lagoa e a cascata.


E agora como vamos sair daqui!?


Está mesmo boa....o melhor é aproveitar!


Assim foi, decidimos descansar um pouco e tomar uma banhoca refrescante e retemperadora. Uma maravilhosa sensação que não se pode descrever, só sentir. Nossa Senhora dos Caminhos que por aqui tem uma alminha, certamente, guiou-nos até aqui.


Despimos (por momentos, claro!) as camisolas que ficaram a arejar.


E fomos a banhos. A água estava bem fresca comparada com a temperatura ambiente.



Está quase....




A curtir o momento.


Boa disposição depois da banhoca.

Mas o que é bom pouco dura e nós tínhamos muito que pedalar. Depois da paragem fez-se luz! A saída do Penedo Furado afinal era pela única vereda que nos faltara fazer. O trilho  inicial, muito íngreme mal se notava e parecia apenas de acesso à imagem da Nossa Senhora e sem saída. Mas tinha! Foi com ar incrédulo que os veraneantes presentes nos viram sair dali!



Afinal a saída era por ali!


Nossa Senhora dos Caminhos.


Depois da escalada um singletrack esperava-nos na despedida do Penedo Furado. Sempre na GRZ fomos rolando por estradão, em sobe e desce constante. 




Singletrack à saída do Penedo Furado.


Continuando o caminho à procura do almoço.


Do Penedo Furado a Vila de Rei era um instante, mas um instante inclinado! Em Brejo Fundeiro fomos brindados com cerca de 3 quilómetros com 8% de inclinação média mas com uma longa rampa a 15 % onde foi atingida a temperatura máxima da travessia, uns calorosos 46ºC.




Já no final da terrível subida.


Confesso que quando o Paulo Magalhães gritou:"Janinha 15% 46º".....eu pensei:"mas 15% de inclinação não correspondem a 46º!?". Só mais tarde já em Vila de Rei é que caí em mim...de temperatura e não de medida angular!.... O calor aliado ao esforço prega estas partidas. Claro que quando contei ao Paulo e ao Rui foi uma risota pegada.





A recuperar um pouco do esforço.





Já faltava pouco para Vila de Rei.


Ir a Vila de Rei não estava nos planos do dia, mas com o atraso (justificado) já acumulado e o calor abrasador que se fazia sentir o desvio fazia todo o sentido. Foi chegar, encontrar um local para repasto e recuperar do esforço. Soube bem o ar condicionado do restaurante conjuntamente com litros de água e alguma cerveja.




Já no conforto do restaurante a repor energia.



Fomos obrigados a ficar na molenga, instalados na fresquidão (possível) do jardim central de Vila de Rei até às 5h00 da tarde, hora em que decidimos retomar o caminho visto a temperatura já estar mais amena, por volta dos 39ºC. Antes de arrancar a decisão ficou logo tomada. O destino final que estava previsto (Figeiró dos Vinhos) ficou completamente fora de questão. O ponto final seria desviado para a Sertã (esta é a grande vantagem de ir sem locais de pernoita previamente definidos). Um MTB nunca desiste, adapta-se à nova realidade!




No jardim de Vila de Rei. Descansando e à espera de ar mais fresco para pedalar.



Abastecimento antes da partida de Vila de Rei. Água com muito cloro!


Mochilas às costas, água com fartura e lá fomos nós retomar os trilhos, descendo de Vila de Rei em direção a Estevais onde voltámos à GRZ primeiro por um estradão descendente, depois por estradas florestais, para em seguida mais escalar mais uma parede. Foram uns curtos 2 quilómetros com inclinação média de 11,5% com uma rampa inicial de 25% de tirar o fôlego.





A entrada para um dos caminhos florestais. Nesta zona quase toda a floresta é estatal.



Paulo Magalhães na fase dos 25% de inclinação.



A parte pior já tinha passado, mas mesmo assim dura o subida!


Depois da subida, perto de Aivados chegamos a um planalto onde o terreno ficou mais afável e observamos o único fogo em toda a travessia (estranho pois o fumo era branco, parecia uma nuvem). 




O fumo branco ,que mais parecia uma nuvem, anunciava o fogo longe.....em Góis.


Rolamos por estradão até à aldeia de Ribeira onde uma simpáticas senhoras nos providenciaram o último abastecimento de água do dia.


As simpáticas senhoras ribeirenses que nos saciaram a sede.

Água do furo bem fresquinha.

Já era tarde e ainda tínhamos que ir encontrar local para dormir na Sertã. Decidimos fazer os quilómetros finais por alcatrão. Primeiro por estrada municipal desfrutando da maravilhosa luminosidade do final do dia que pintava a paisagens com tons amarelos e alaranjados  acompanhados pelo cheiro característicos das estevas, seguimos em direção a Palhais (não a terra do queijo que essa é noutras paragens). 



Descida para a ribeira de Palhais.

Lá chegamos depois de subir da ribeira com o mesmo nome, desta vez 2 quilómetros a 9%. Desta aldeia viramos para este em direção à mítica Nacional 2 que nos levou, finalmente à Sertã.



Na subida para Palhais.


Já era noite (20h30) quando chegamos. Fomos então à procura dos bombeiros que nos acolheram de braços abertos apesar da azáfama provocada pela onda de incêndios (durante a noite tocou a rebate para mais um combate). Banho tomado, roupa lavada e lá fomos à procura de alimento. O jantar foi....onde podia ser.... Foi mau diria mesmo o pior de sempre desde que andamos nestas aventuras (nem o bitoque da Ericeira, em 2002, foi assim tão mau Rui Mendes!). Mas alimentou, e não o iríamos esquecer.



A camarata onde ficamos alojados nos bombeiros da Sertã.