quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Fuga do Vale 2013 - À conquista das Aldeias de Xisto

(relato)

Dia 3 (21-08-2013)
Calçada romana, obras de arte, indisposições intestinais.....e a busca da praia perdida

Sertã-Ansião 70 km 2192m D+


À saída dos Bombeiros Voluntários da Sertã.

A alvorada foi por volta das 7h00. A manhã acordou bem fresca comparada com as anteriores. Após o agradecimento devido aos bombeiros fomos à procura da Estrela Doce, a pastelaria onde fomos tomar o pequeno-almoço. O edifício dos bombeiros da Sertã localiza-se na parte alta da vila (junto ao IC8) e a pastelaria na zona mais baixa no centro da vila junto à ribeira da Sertã, que atravessa a vila. Na descida, ainda longa, todos nós batemos o dente tal era a fresquidão matinal!




Rui a ultimar a bicicleta para a aventura do dia.

Depois de tomado um belo pequeno almoço lá fomos nós à procura dos trilhos abandonados no dia anterior. A saída da Sertã foi demorada. Primeiro abastecimento das carteiras no multibanco, depois uma ligação a uma operadora móvel para recuperar o PUCK e o PIN do telemóvel do Paulo Magalhães, a seguir foi o Rui Mendes a encher os pneus da bicicleta e uns metros mais à frente outra paragem técnica para tentar retirar um barulho incomodativo da bicicleta do Paulo Magalhães. 



À sair da vila da Sertã.

Cerca de 45 minutos após esta sucessão de percalços lá seguimos à procura da Nacional 2 para tomar a direção de Aveleira, passar por Póvoa da Granja e antes de Pedrogão Pequeno em Vale da Froca viramos para oeste para apanhar os desejados trilhos que integram a Pequena Rota 2 (PR2) de Pedrogão Pequeno.



A caminho da próxima paragem o Moinho das Freiras, Pedrogão Pequeno.

Logo que pisamos a terra entramos numa descida vertiginosa e com uma vista grandiosa que nos levou ao Moinho das Freiras junto ao rio Zêzere (albufeira da Bouçã). 




A albufeira da Bouçã. Rio Zêzere no seu máximo esplendor.


Rui a contemplar o rio Zêzere a caminho do Moinho das Freiras.

A descer com o rio Zêzere sempre em linha de vista.

O nome do lugar Moinho das Freiras teve a sua origem provavelmente pelo facto de nesta zona até à construção da barragem, terem existido moinhos, um deles pertencente a um dos dois conventos que existiram em Pedrógão Pequeno. A certeza histórica perdeu-se com o tempo, e o Moinho das Freiras também, mas o nome prevaleceu até hoje. Atualmente o local é assinalado pela existência de um agradável parque de merendas que vale a pena visitar, mas, do qual não temos lamentavelmente nenhuma foto!



Paulo junto ao espelho de água da albufeira no Moinhos das Freiras.



Espelho de água da albufeira da Bouçã.

Paragem obrigatória para absorver o que a paisagem nos tinha para oferecer: beleza, silêncio e grandiosidade. Entretanto os sintomas de indisposição intestinal começavam a manifestar-se. O Paulo Magalhães foi obrigado a paragem forçada para se aliviar entre as giestas.




O vigor da paisagem que nos envolvia.



Rocha, água e vegetação.

Seguimos depois através do túnel das Freiras que à primeira vista não se percebe porque foi construído neste local recôndito.  


Rui na entrada sul do Moinho das Freiras com o parque de merendas em fundo.

O túnel da Freiras. À direita a levada para transporte da água.

O túnel foi construído entre 1918 e 1920 pela extinta companhia Nacional de Viação e Eletricidade e, com ele, foi aberta uma levada que tinha como objectivo transportar a água do rio, desde o Vau, local situado a montante da actual barragem do Cabril até ao Moinho das Feiras para aí construir um aproveitamento hidroeléctrico. As obras foram interrompidas em 1920, tendo os trabalhos parado junto da “Ponte da Levada” que atravessa o ribeiro dos Portoleiros, ficando este túnel como testemunho da obra inacabada.



Auto retrato no túnel das Freiras.

Atravessamos o túnel em direção à ponte Filipina percorrendo, o trilho da Levada, um trilho fantástico na margem esquerda do rio Zêzere. 



A pedalar no trilho da Levada.

A ponte Filipina.



Arco no trilho da Levada.

Neste sentido a primeira vez que aparece a imagem da ponte é também um local curioso onde se podem observar obras de arte de 3 épocas distintas: a ponte Filipina (construída entre 1607 e 1610), a barragem do Cabril (construída nas décadas de 40 e 50 do século XX)  e o impressionante viaduto do IC8 (construído já neste século). 



A ponte Filipina, o viaduto do IC8 e a barragem do Cabril em fundo.

No entanto não é possível ver a obra mais antiga de todas a ponte romana que se encontra submersa pelas águas do Zêzere cujo testemunho está materializado pela, ainda existente, calçada romana que se estende pelas vertentes das duas margens do vale. 

Continuamos a pedalar pelo trilho da Levada até à ponte Filipina que alcançamos depois de apanhar-mos a calçada romana da margem esquerda do Zêzere. 


No trilho da levada a caminho da ponte Filipina.


Para se chegar à ponte Filipina tem que se vencer  o, por vezes íngreme, trilho da Levada.

Calçada romana do Cabril (margem esquerda).


Na calçada romana do Cabril a descer para a ponte Filipina. 


A ponte Filipina.


Paulo a atravessar a Ponte Filipina.
Estando neste local é difícil imaginar a passagem entre Pedrogrão Pequeno e Pedrogão Grande antes da existência da barragem do Cabril e do mais recente viaduto do IC8. Sentimos nas pernas quando passamos a ponte Filipina e subimos a calçada romana (bem conservada) com cerca de 2,5 quilómetros a 9-10% de inclinação média, abandonando a PR2.



A calçada romana, ao longe, esperava por nós.


A calçada romana, início de subida.


Painel de informação da PR2, trilho dos Romanos.

Se o dia tinha amanhecido fresco rapidamente aqueceu e já pedalavamos outra vez com a temperatura nos "entas" graus centígrados. No final da subida logo a seguir ao miradouro, onde nos despedimos do rio Zêzere,  o trilho estava interrompido.




Entrada do miradouro.

Vista do miradouro



O Rui e o Paulo a subir a calçada Romana. Estava quase!

Nesse cruzamento registamos o bom trabalho da câmara municipal de Pedrogão Grande no que respeita à posicionamento dos seus arruamentos onde as placas toponímicas contêm a georreferenciação facilitando a sua rápida pesquisa e localização, um exemplo a seguir.



Placa toponímica com coordenadas inscritas.

O pequeno desvio que fomos obrigados a fazer levou-nos à entrada sul de Pedrogão Grande que não visitamos pois, como de costume, estavamos muito atrasados devido à atitude contemplativa tomada perante as paisagens matinais. O objetivo era agora chegar a Figueiró dos Vinhos, a horas de almoçar.

Rumamos a sul descendo cerca de 2 quilómetros pela N350 para depois retornarmos aos trilhos ascendentes mas com bom piso que nos levaram ao recinto da capela de São Vicente dos Pinheirais pertencente à aldeia de Mó Grande. 


A capela de São Vicente dos Pinheirais.

Neste local uma bica apetitosa esperava-nos. Estavamos no pico do calor e ainda faltavam alguns quilómetros para Figueiró dos Vinhos. Aproveitamos para fazer uma breve paragem e bebemos avidamente uma água que soube maravilhosamente. Aqui as abelhas, apesar do calor estavam muito ativas e tentaram afastar-nos da bica (talvez fosse um sinal! mais para a frente perceberão porquê).



Aproveitando a sombra da capela para saciar a sede.

Foi nessa altura que aproveitamos para voltar a pedalar sob intenso calor. Ainda pudemos registar o esforço da população que nestas zonas mais isoladas tinham (e ainda têm) que se associar para efetuar obras de melhoramento. Neste caso o esforço popular foi para levar eletricidade a este local no ido ano de 1976, quando o país ainda se confrontava com a nova realidade chamada democracia.



Placa comemorativa da construção do ramal elétrico em 1976.


Saindo do recinto da Capela em direção a Figueiró dos Vinhos.

Seguimos na direção da aldeia de Carreira onde entramos numa vasta área arborizada que nos protegeu do calor e onde passámos por um ribeiro refrescante que nos dificultou um pouco a progressão. O caminho antigo estava completamente tapado por uma vegetação densa e só após algumas tentativas é que eu e o Rui Mendes (enquanto o Paulo Magalhães se aliviava novamente!) conseguimos descobrir uma passagem.



O caminho estava interrompido e fechado.

Esta obrigou-nos ao atravessamento a vau do pequeno ribeiro que nos invernos mais rigorosos deve ser bastante vigoroso tendo obrigado a população à construção de uma passagem alternativa que entretanto têm sido pouco utilizada, sinais dos tempos!


O Paulo, já aliviado,  passar  a vau o pequeno ribeiro.



O Rui a passar  a vau o pequeno ribeiro.

A pequena ponte construída para passar o ribeiro no inverno. 
O caminho continuou entre vegetação frondosa em sobe e desce constante até à chegada a Carvalheira primeiro à Pequena e depois à Grande. 


Vegetação frondosa, bendita protetora dos raios solares!
Momentos depois apanhamos uma estrada florestal alcatroada inclinada, 1,5 quilómetros a 10 % que nos levou a Portela, valia a sombra!



Final da subida. Figueiró era já ali.....


Estavamos a chegar a Figueiró dos Vinhos (localizada numa zona alta) onde nos esperava uma surpresa. A estrada por onde seguiamos estava a ser alcatroada e o piso estava com a cola de preparação (antes da colocação final do alcatrão). A estrada estava cortada mas, após perguntarmos aos trabalhadores se nós podiamos passar, ao que eles responderam afirmativamente, lá seguimos. Foi uma chegada infernal com uma mistura de calor atmosférico com calor emanado da estrada conjugados com o atrito provocado pela cola do pavimento. Era já ali mas nunca mais viamos o fim! Não deu nem para tirar uma fotografia à Quinta do Mouchão, por onde passamos. 

Mas fez-se e lá chegamos ao centro da vila onde perguntamos, ao primeiro figuerense que vimos, por referências para almoçar que já se fazia tarde. Depois de uma longa mas simpática descrição lá fomos à procura da Casa dos Leitões onde haveria umas saborosas sandes dos ditos, localizada perto da estação do correio. Mal entramos num engraçado espaço, misto de restaurante e de drogaria (locais que eram típicos de muitas vilas e aldeias de Portugal mas que atualmente cairam em desuso), os simpáticos donos disseram-nos, as sandes de leitão estão esgotadas mas temos um prato novo (que estamos a testar), entrecosto de novilho. 

Ficamos descansados. Estacionamos as bicicletas à sombra e instalamos-nos numa das mesas do pequeno mas fresco café. Nova dose de água e alguma cerveja que acompanharam o peculiar entrecosto de vaca estufado, saboroso, com muita carne, mas um pouco duro. A sobremesa foi um delicioso e enorme pudim caseiro. 

A meio da refeição o Paulo continuava com indisposição intestinal (apesar de globalmente bem disposto) e no fim, foi a vez do Rui Mendes começar com os mesmos sintomas. Depois do almoço finalizado ficamos, mais uma vez, recatados durante cerca de 2 horas à espera que a temperatura ficasse mais amena. Neste intervalo de tempo foi a vez do Rui Mendes utilizar a casa de banho quatro vezes. A insdisposição intestinal também o atacou. Faltava eu. Até ao momento tudo estava bem comigo. 

Começamos a tentar perceber qual a origem do problema. Identificamos duas origens possíveis: o jantar da véspera ou a água da fonte que bebemos na capela de São Vicente de Pinheirais. Não chegamos a consenso, na opinião do Rui e do Paulo a origem era a água, para mim o jantar da véspera. Todos tinhamos jantado os mesmos alimentos e todos tínhamos bebido água da fonte, mas eu continuava sem ter sintomas.

Finalmente o calor abrandou e decidimos voltar a pedalar. O destino tinha sido alterado para Castanheira de Pêra. Iríamos apanhar os trilhos, visitar uma praia fluvial e rumar ao destino traçado. Na despedida em conversa com o dono do restaurante este perguntou-nos para onde íamos. Descrevemos o nosso plano e ele disse-nos que a praia fluvial mais famosa da zona era a Fraga de São Simão, mas que não teríamos tempo de a visitar e de chegar de dia a Castanheira de Pêra. Dissemos-lhe que não sabíamos o nome da praia mas que segundo as indicações do trilho do GPS não seria muito longe de Figueiró dos Vinhos.

Terminada a conversa começamos a pedalar, condicionados pelo nome Fraga de São Simão, para ir à procura da praia fluvial, onde imaginamos ir a banhos (com a recordação dos momentos vividos na véspera, no Penedo Furado). Em Figueiró dos Vinhos, ou se desce ou se sobe e nós lá começamos novamente a subir. Mesmo antes de retornarmos aos trilhos vimos uma placa com indicação, Fraga de São Simão. Pensamos.... afinal.... sempre é esta a praia que vamos visitar!



Depois de almoço, a caminho da praia fluvial...pensavamos nós!

Descemos por um estradão largo que rapidamente estreitou e começou a ficar fechado pela vegetação. Ficamos alerta! Para acesso a uma praia fluvial o caminho estava em muito mau estado....mas...no vale, corria um ribeiro com bom caudal e água límpida. À medida que avançamos o trilho estava cada vez mais fechado, a certa certa altura era uma selva de silvas! Pensamos.....positivamente....estamos a entrar pelas traseiras da praia. 


Cada vez mais fechado o trilho!

A certa altura, estacionei a bicicleta e  avancei apenas eu para perceber se o caminho tinha mesmol saída. A água corria em força mas acessos nada. Avancei....até onde consegui...até encontrar uma represa com um lago de água fresca e límpida entre uma vegetação frondosa mas praia fluvial nem vê-la.....fiz mais uma tentativa mas a vegetação não deixava avançar, decididamente ali não havia nenhuma praia.



Havia água e bem apetecível, mas no meio do nada e entre uma vegetação muito fechada.

Voltei para trás informei o Rui e o Paulo. Lá continuamos, sem banhos e resignados. Uns metros mais há frente o caminho estava cortado sendo agora o terreno anexo de uma vivenda. Não tínhamos outra opção senão continuar pois, não havia alternativa, era a única forma de alcançar a ponte onde poderíamos ultrapassar o ribeiro. Fomos pedalando, cuidadosamente, até perto da vivenda onde estava o dono à nossa espera.....com um sorriso (maroto) nos lábios...Tinha-nos observado e estava ali para nos abrir o portão! Explicamos o sucedido e ele falou um pouco connosco. Compreendia o sucedido pois também costumava fazer corrida de montanha e por vezes acontecia-lhe o mesmo. Perguntou-nos de onde vínhamos e para onde íamos. 

Explicamos sucintamente e aproveitamos para perguntar pela praia fluvial. Ali não havia nenhuma! A mais próxima era realmente a Fraga de São Simão. Perguntamos qual a direção ao que o senhor respondeu que esta se localizava a cerca de 5 quilómetros. Disse-nos também, em tom algo irónico, que nos iríamos lembrar dele mais à frente. Haveria uma subida muito inclinada antes de apanhar estrada que pretendíamos. Agradecemos mas ficamos algo desconfiados da sua informação, pelo tom irónico com que falou connosco. 

Agradecemos, despedimo-nos e fomos à procura da subida. Esta realmente existia, mas tal como pensamos, mas não era nada do outro mundo. Como se diz em linguagem popular, o senhor "armou-se aos cucos". Falamos e lembramo-nos muitas vezes dele, durante o resto da travessia, não pela dificuldade da subida, mas pela sua prosápia.

Depois da subida chegamos à estrada nacional 237. Mais uma vez estavamos atrasados, a procura da praia perdida e a conversa com o senhor da vivenda custou-nos muito tempo. Era tempo de decidir o que fazer. Voltar atrás e ficar em Figueiró dos Vinhos não nos agradava. Ir por trilhos até Castanheira de Pêra uma possibilidade ou então aproveitar e começar o retorno para Mira de Aire e ir na direção sul para Avelar ou Alvaiázere. 

Enquanto decidíamos o que fazer eu, de forma involuntária e inusitada, acabei por decidir o nosso destino. A indisposição intestinal que atacara já o Rui e o Paulo, atacou-me fortemente. Foram 15 minutos de sofrimento entre giestas. Felizmente fiquei aliviado e em condições físicas para continuar. A decisão mais sensata seria rumar a sul, por alcatrão, até Avelar, onde iríamos procurar dormida.

Depois da minha recuperação começamos novamente a pedalar pela estrada nacional 237, primeiro em ligeira subida e passado pouco mais de um quilómetro numa vertiginosa descida, onde pudemos observar a placa indicativa da direção da Fraga de São Simão. Definitivamente a visita a esta maravilha natural não estava nos planos iniciais nem estaria nos finais. Ficará para outra ocasião. A descida transportou-nos a Ribeira de Alge onde paramos depois de passar a ponte sobre o curso de água com o mesmo nome. 



Depois da vertiginosa descida chegando a Ribeira de Alge.

Aproveitamos para parar num café para uma bebida rápida. O estabelecimento estava num caos total, o balcão pejado de garrafas vazias, as mesas cheias de loiça suja e um cheiro desagradável. Pedimos bebidas de cápsula que asseguravam as condições de higiene, pagamos, saimos para o exterior, bebemos e fomos embora. Entretanto alguns turistas, como nós, entravam, observavam e saiam rapidamente. Inacreditável.....

Dizia um ciclista famoso da nossa praça, segundo o relato de Marco Chagas, que não gostava de passar por pontes pois significava que a seguir o esperava uma subida. E connosco assim foi depois do mini abastecimento mais um troço de cerca de 2 quilómetros com 9 % inclinação média. Aproximavamo-nos paulatinamente de Avelar. Quando chegamos a rotunda de entrada da localidade o Rui Mendes disse-nos que precisava de colocar pressão nos pneus e dirigimo-nos a uma estação de serviço que estava à vista.

Foi uma boa escolha. Ao chegarmos lá a mangueira de pressão de ar não estava no lugar. Logo pensamos...que azar! Mas mais uma vez fomos bafejados pela sorte.... Vimos a empregada da bomba a deslocar-se na nossa direção transportando a referida mangueira. Dirigiu-nos simpaticamente a palavra informando que devido ao actos de vandalismo optaram por retirar o referido apetrecho que estava guardado e só era utilizado após solicitação do mesmo. A senhora perguntou o que andavamos a fazer e nós mais uma vez explicamos a nossa aventura e que neste dia tínhamos decidido ir dormir a Alvaiázere onde havia bombeiros e que ficava na direção de Fátima-Mira de Aire

A senhora disse que o quartel mais próximo ficava em Ansião, a cerca de 15 quilómetros dali e que o caminho era mais favorável que para Alvaiázere. A ideia agradou-nos pois já tínhamos dormido num ano anterior nesta vila. Após uns minutos de conversa decidimos ir para Ansião (onde eu já tinha dormido, acampado no jardim municipal em 1999 na primeira travessia que fizemos). Perguntamos onde se apanhava a estrada nacional para Ansião pois não queríamos pedalar pelo IC8. Após algumas indicações breves agradecemos e despedimos-nos da senhora que se dirigiu para a loja da bomba.

Quando estavamos mesmo para arrancar ouvimos uma voz masculina a chamar por nós. Era o marido a senhora que queria falar connosco....para dizer que era amigo chegado do presidente da câmara de Ansião que era também o presidente dos bombeiros da vila. Pegou no telemóvel, marcou o número falou com o presidente e..estava feita a marcação da pernoita para o fim da jornada.

Recebemos indicações detalhadas da direções a seguir. Era fácil.... seguíamos pela estrada do Pontão, atravessavamos a zona industrial e depois apanhavamos 2 quilómetros da estrada nacional 237 que coincidia com o IC8 (para evitar subir a serra de São Brás)...era sempre a direito. Mais uma vez agradecemos toda a simpatia e disponibilidade para ajudar do simpático casal e seguindo as indicações lá fomos á procura de Ansião. Pela primeira vez na travessia paramos num sinal vermelho. O sinal passou a verde e lá fomos nós primeiro em plano e depois em ligeira subida a caminho da zona industrial para depois fazer os últimos quilómetros na estrada nacional 237/IC8 em descida até Ansião.




Na estrada do Pontão, em Avelar à espera do sinal verde.

Estava terminado o dia e logo que viramos para Ansião lá estava o quartel dos bombeiros à nossa espera. Contactamos o bombeiro que estava de serviço e informamos sobre a contacto efetuado ao presidente da câmara. Dois minutos depois estavamos a conhecer as instalações, balneários e dormitório. Como Ansião fica na rota de peregrinação para Fátima os bombeiros têm umas instalações preparadas para receber alguns peregrinos numa zona própria, espaçosa e bem cuidada (nesta altura do ano estava completamente vazia). De louvar a iniciativa desta corporação.



Chegada a Ansião depois de um dia cheio de peripécias.

Instalamo-nos, fomos tomar banho, lavar a roupa e depois de reconfortados fomos procurar a famosa pizzaria de Ansião (recomendada pela casal avelarense). Felizmente as indisposições intestinais que nos atacaram durante o dia já estavam debeladas. Chegamos à pizzaria na hora certa, estava vazia mas quase todas as mesas reservadas. Passado cerca de meia hora já com o nosso pedido feito o restaurante encheu com várias famílias de emigrantes. O jantar foi igual para todos, pizza calzone à moda da casa, tamanho grande. Era deliciosa mas...os olhos foram maiores que a barriga...comemos tudo devagar mas nem tivemos coragem de olhar para a lista de sobremesa ou de tirar a fotografia da praxe.

Como o jantar foi farto, não podíamos ir logo para o quartel dormir. Com uma noite de verão típica, aproveitamos e fomos passear a pé pelo bem cuidado centro da vila de Ansião. Bebemos uma água no café mais movimentado da vila e finalmente fomos descansar as pernas. No dia seguinte haveria mais trilhos para pedalar e histórias para contar.




Curiosidade: A escrita deste relato foi terminada no dia em que o ciclista Rui Costa se tornou campeão mundial de ciclismo de estrada.  
  






2 comentários:

  1. Magnífico... Tens que levar o pessoal aí...

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    1. Quem és tu Poseidon :) ? Não será fácil repetir esta aventura. Existem mais trilhos e locais de elevada beleza para percorrer neste Portugal.

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