sábado, 12 de outubro de 2013

Fuga do Vale 2013 - À conquista das Aldeias de Xisto

(relato)

Dia 4 (22-08-2013)
Reencontro com um rio Nabão diferente, no caminho (sereno) para a cidade de Santo Estevão (Mira de Aire), passando pelos famosos caminhos de Fátima.

Ansião-Mira de Aire 74 km 1495m D+

Começo por avisar, antes da leitura da crónica, que existe uma relação inversa entre a proximidade do destino final e o número de fotografias tiradas. O último dia das nossas travessias é sempre o "mais leve para pedalar" e também para dar ao disparador da máquina fotográfica. Feito este aviso cá vai a narrativa.


No largo dos Bombeiros de Ansião, prontos para partir. 


Após uma noite bem dormida "de barriga bem composta" acordamos com muito boa disposição, prontos para mais um dia de aventura que nos levaria de volta ao vale (Mira de Aire). Arrumamos os aposentos daqueles que viajam pelos campos (peregrinos - per agros), preparamos as bicicletas, despedimo-nos (agradecendo a hospitalidade) dos bombeiros e pedalamos para o do centro da vila da Sertã à procura do pequeno almoço.


Em Ansião à procura do pequeno almoço.


Foi mesmo junto à praça do município, com vista para a câmara municipal que nos alimentamos com pão fresco e pastelaria de alta qualidade.


Na praça do município junto do edifício da câmara municipal de Ansião. 

Sabíamos de antemão que o dia ia ser mais leve que os anteriores, conforme estava no planeamento inicial (desta vez sem percalços). Até à hora do almoço iriamos pedalar por trilhos e a parte final da aventura, já em terrenos bem conhecidos, seria feita maioritariamente por alcatrão.

Bem alimentados despedimo-nos de Ansião pedalando para sul em direção a Albarrol e depois passando perto de Ribeira de Ansião. Seguimos os trilhos normalmente utilizados nas peregrinações para o Santuário de Fátima e também percorridos pelos atletas participantes na duríssima prova de resistência 500 km Oh Meu Deus 2013 que ligou a serra da Estela a Sintra, passando por esta zona.


Já depois de Ribeira de Ansião, junto ao leito seco do rio Nabão.

O rio Nabão na sua foz onde se observa a turbulência. Nada comparável à sua zona nascente!

O percurso seguia por terrenos quase planos intercalando por vezes algumas subidas suaves mas com piso traiçoeiro. 

As subidas não eram inclinadas mas nem sempre o piso colaborava.



Esta já está feita. Venha a próxima.

Ao passarmos por Ribeira de Ansião iniciamos um percurso paralelo ao leito do rio Nabão que nasce um pouco mais a norte no lugar, pertencente a este concelho, dos Olhos de Água (o nome não podia ser mais elucidativo).


O leito seco do rio Nabão.

Voltamos a encontrar o rio Nabão do qual já conhecíamos a foz que tínhamos atravessado a vau no primeiro dia desta aventura. Parecia impossível ser o mesmo curso de água que visitamos na sua foz quando abraça o rio Zêzere.



Ao longo deste trajeto os diversos locais de interesse encontram-se bem sinalizados.


Aqui, devido ao estio e ao terreno de calcários o leito do rio estava completamente seco, como se nunca tivesse corrido uma gota de água nele. Nos terrenos cársicos durante o estio, o nível freático baixa muito e a água só flui em profundidade. 

Apenas os vestígios das plantas aquáticas completamente ressequidas mas, orientadas segundo o sentido da corrente e os muros construídos nas margens testemunhavam a existência da passagem de água nas estações chuvosas. Uma paisagem verdadeiramente surpreendente. 



No estradão paralelo ao leito do rio Nabão. 


Seguimos durante vários quilómetros por caminhos paralelos ao leito seco do Nabão, alternando de margem de vez em quando rodeados pela paisagem tipicamente cársica, entre calcários e arbustos (carrascos) de grande porte.



Os calcários e os arbustos dominavam a paisagem.


Chegou depois o momento de divergirmos, em Parcerias, da direção do rio Nabão e continuarmos a pedalar até Arneiro de Baixo onde fizemos uma pequena paragem para beber um café e uma água fresca. O dia estava mais ameno comparado com os anteriores. 

Pedalávamos sem esforço e sem suar. Mas, em breve, a situação alterou-se com a primeira subida do dia, curta mas inclinada a 8%, depois de passar por Charneca a caminho de Camarões, que deu para alterar o ritmo cardíaco.


Passada a dificuldade o terreno passou a ser mais dócil, num rompe pernas suave entre pinheiros e alguns eucaliptos incipientes,  num piso arenoso intercalado com seixos rolados mas mesmo assim bastante rolante.



No estradão arenoso a caminho de Camarões.


Ao chegarmos perto de Camarões andamos à procura do caminho que nos levaria para Cachinheira (à terceira tentativa lá demos com ele) e depois a Carvalhal de Baixo. 



Caxarias já aparecia nas placas de direção.

Uns quilómetros mais à frente seguimos por uma autêntica auto-estrada (em largura, claro!) de terra batida. Primeiro em descida e na parte final, uns curtos 800 metros a cerca de 20% de inclinação que nos conduziu à Carvoeira já perto de Caxarias.

Sentiamo-nos agora em casa, a partir daqui os terrenos eram já familiares. Efetuamos uma breve paragem para decidir por onde iriamos atacar a subida à serra de Aire, mais concretamente ao planalto de São Mamede e consequentemente o local para o almoço que já eram horas! 




Já em Ourém a estacionar as bicicletas para ir almoçar.


Optamos por seguir por Ourém, onde almoçamos descansadamente no restaurante a Buraca. Foi uma diária composta por sopa de hortaliça, prato principal (dobrada para dois e bochecha de porco para o restante), sobremesa (pudim para dois e melão para o restante), café e, talvez por engano, o par de canecas de meio litro que cada um de nós bebeu durante a refeição.




No almoço, brindando ao sucesso da aventura de 2013.

Seguiu-se uma preguiçosa paragem de cerca de duas horas para o almoço assentar e esperar que o calor, apesar de pouco intenso, diminui-se. Além disso esperava-nos uma subida longa que não deveria ser feita depois de um almoço farto como o que desfrutamos.


Mas chegou o momento da verdade e lá voltamos a colocar as mochilas às costas para irmos conquistar a santa cidade de Fátima. 

Subimos em bom ritmo os cerca de 6 quilómetros com inclinação média de 4% chegando, então, à conhecida Fátima Velha (a Fátima original). Continuamos na direção de Eira da Pedra onde mimetizando os três pastorinhos, na rotunda da aldeia, imortalizamos o momento.


Os pastorinhos na rotunda da Eira da Pedra.



Estávamos já perto, muito perto de Mira de Aire. Seguindo o caminho, fizemos jus ao ditado "santos da casa não fazem milagres" perdendo-nos nos trilhos que conhecia-mos como a palma das nossas mãos. 


Quem não conhece a zona poderá ficar confuso! Para onde se vai para Mira de Aire?.
Seguíamos sem navegar pelo GPS junto às pedreiras da Giesteira onde queríamos deixar o alcatrão para terminar a aventura por trilhos, neste caso apanhando um singletrack muito técnico e divertido que nos transportaria aos Crespos. 



No caminho depois da pedreira. O melhor estava para vir!

Como os limites da pedreira tinham sido recentemente alterados, fomos traídos pela alteração do caminho que normalmente nos levaria ao referido singletrack. A procura do trilho durou apenas alguns minutos em que andamos com as bicicletas à mão, para a frente e para trás, até que finalmente encontramos a direção certa. Afinal o milagre foi conseguido.




Não era por aqui!


Nem por ali!


Finalmente o trilho certo Rui!


E Paulo!


Percorremos então o singletrack até ao fim, o estradão que liga a Gisteira aos Crespos para depois chegarmos à Pia do Urso completando assim o percurso circular da travessia (que normalmente não tem este desenho). Se na Pia do Urso tínhamos feito a primeira paragem desta aventura, terminamos da mesma forma parando novamente neste agradável lugar.




As bicicletas no descanso.

Esta última pausa foi como seria de esperar mais prolongada com direito a estacionamento das bicicletas para desfrutar da sombra dos carvalhos da bela esplanada do Café-Bar da Pia do Urso. Bem sentados à sombra das centenárias árvores ingerimos bebidas ricas em gás para acabar de digerir os restos do almoço.



Um MTB também descansa, não é Rui?


Bem dispostos e frescos que nem uma alface colocamos, pela última vez nesta aventura, as mochilas às costas seguindo o caminho até ao vale em Mira de Aire. Por volta das 18h00 chegamos à entrada da cidade de Santo Estevão, onde com a paisagem do Mindinho e da Buracas, registamos o momento com a tradicional fotografia de grupo.



Teste de enquadramento para imortalização da chegada a Mira de Aire.



Estava cumprida a aventura do ano de 2013 dos três MTB's. Venha a próxima mas,.....sem indisposições! O calor, esse, seja humano ou meteorológico, será sempre bem vindo.




Os três aventureiros. Da esquerda para a direita: Rui Mendes, João Noiva e Paulo Magalhães.



Epílogo

A conquista das aldeias de xisto bem como da serra da Lousã era o objetivo inicial desta aventura. No entanto devido a vários percalços tivemos que, ao longo dos dias, nos ir adaptando às novas circunstâncias que foram surgindo. 

A alteração do planeamento inicial da travessia de cinco para quatro dias foi o primeiro a acontecer. A tentativa de encaixar o percurso de cinco dias para quatro, embora com as devidas adaptações, comprometeu um pouco o objetivo final.

Depois foi o chamamento da natureza, as belas paisagens e locais por onde fomos passando sobrepuseram-se aos quilómetros previamente definidos para cada etapa. 

Também as condições meteorológicas extremas com temperaturas quase sempre acima dos 40º centígrados (principalmente no segundo e terceiro dias) nos condicionaram. Preferimos manter-nos saudáveis em detrimento de mais uns quilómetros percorridos mesmo sabendo que o objectivo inicial estaria cada vez mais comprometido.

Finalmente as indisposições intestinais que felizmente foram leves e  localizadas no tempo. Na verdade só condicionaram o destino de pernoita do terceiro dia pois, já há muito que o traçado inicial da travessia estava completamente alterado.
    
O carácter errante, os percalços e as situações inesperadas são também as melhores partes deste tipo de aventura. Apesar do necessário planeamento inicial os destinos traçados são sempre versáteis. 

O grande desafio é ter a capacidade mental e física (por esta ordem não comutativa) para resolver os imprevistos, superar as dificuldades e nunca desistir (sensatamente, claro está). O destino seja ele qual for estará, sempre, lá à nossa espera. "Um MTB nunca desiste, adapta-se às novas situações".


Mesmo com todas as peripécias vividas a travessia cumpriu os principais objetivos definidos: o convívio entre amigos, a descoberta de paisagens e locais de elevada beleza, conjugados com dias de intenso pedalar. Para o ano haverá certamente mais para contar.



Resumo de viagem.

Foi uma aventura de elevado grau de dificuldade, tendo sido pedalados 301 quilómetros acumulando um desnível positivo de 7374 metros, cujos trajetos em breve estarão disponíveis para consulta.






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